MAPA de 48 horas Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial

O que é a MAPA de 48 horas?

A MAPA de 48 h é uma técnica de medição ambulatória da Pressão Arterial (PA) durante 2 dias consecutivos que utiliza o software avançado único da CAT&D. Tem vantagens sobre a de 24 h porque as medições são feitas a intervalos de 1 h e a PA medida em vigília e no sono tem elevada reproductibilidade possibilitando a utilização dos padrões dipping (dipper/não-dipper) para a avaliação mais precisa do risco cardiovascular.1,2 Outra das limitações da MAPA de 24 h é, justamente, a baixa reproductibilidade destes padrões3,35 o que impede que sejam utilizados na valorização do risco cardiovascular.

Que indicações tem?

A MAPA é o método mais preciso de medição da pressão arterial que, num cenário ideal, deveria ser disponibilizado a todos os indivíduos para a confirmação do diagnóstico de verdadeira hipertensão e exclusão de hipertensão da bata branca; identificação de hipertensão mascarada; hipertensão não controlada mascarada; hipertensão resistente verdadeira e pseudo-resistente; avaliação do risco cardiovascular; e avaliação da eficácia do tratamento.4-12

Além do mais, a MAPA é o único método que permite medir a PAS durante o sono, justamente a que mais estreitamente se relaciona com o risco de eventos CV13-17 e que é um novo alvo para o tratamento.28

Que informações contém o relatório?

O relatório da MAPA de 48 h inclui um resumo dos resultados que indica os valores de cada um dos parâmetros essenciais para a classificação da pressão arterial (PA média em vigília e no sono), padrão dipping e probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular fatal e não fatal nos próximos 5 anos.

Parâmetro MAPA Vigília Classificação
PAS/PAD médias (mmHg) no período de vigília 142.9/61.1 PA elevada no período de vigília
PAS/PAD médias (mmHg) no durante o sono 135.0/55.9 PA elevada no período do sono
Índice hiperbárico máximo (mmHg x hora) 412.6 PA elevada
Queda relativa da PAS durante o sono (%) 5.5 Padrão tensional não dipper
Probabilidade calculada de evento cardiovascular em 5 anos (%) 2.5

1. Classificação da pressão arterial

O grau de controlo da PA é avaliado em função do valor da PAS média durante o sono que é o marcador mais significativo de mortalidade e morbilidade cardiovasculares e é independente da PA medida na clínica, da PA média em vigília ou da PA média das 24 h.18-28 Mais, a PA diastólica não adiciona valor prognóstico significativo à PAS média do sono.28 Por isso, para o diagnóstico de hipertensão verdadeira e valorização do risco CV utiliza-se a PAS média do sono e não a PAS média do período de vigília.28

Valores de referência da MAPA de 48h para diagnóstico de hipertensão

PA média no período de vigília PA média no período do sono Queda relativa da PAS no sono
≥ 135/85 mmHg 120/70 mmHg < 10% (padrão não-dipper

2. Classificação do padrão dipping

O padrão dipping tem elevado valor prognóstico. A queda relativa da PAS durante o sono, no sentido de um padrão mais dipper, é um marcador significativo de sobrevivência juntamente com a queda da PAS média durante o sono.22,27,28 A obtenção de um padrão dipper deve ser um dos objectivos do tratamento.

Consideram-se 4 padrões dipping, consoante a % da queda relativa da PAS média da vigília para o sono:

Adaptado de: Hermida RC et col. 2013 ambulatory blood pressure monitoring recommendations for the diagnosis of adult hypertension, assessment of cardiovascular and other hypertension-associated risk, and attainment of therapeutic goals. Chronobiology international 2013;30(3):355-410.

A diminuição da queda relativa da PAS durante o sono (perfis não-dipper e riser) associa-se ao aumento da incidência de lesões nos órgão alvo da hipertensão e de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, tanto nos indivíduos hipertensos18,22,24,25,28,31-33 como nos normotensos (paradoxo do normotenso não-dipper).34

3. Quantificação do risco de ocorrência de um evento cv

O relatório da MAPA-48 h também inclui a quantificação do risco do utente vir a sofrer um evento cardiovascular (CV) fatal ou não fatal, nos próximos cinco anos (e também a dez anos).

A figura ilustra o caso de um indivíduo com um risco de 2.47%. Significa este valor que, considerando um grupo de 100 indivíduos, todos com este mesmo risco de 2.47%, 2,47 desses indivíduos irão sofrer um evento CV fatal ou não fatal nos próximos 5 anos.

Utilização da quantificação do risco a 5 ou 10 anos

Nos indivíduos mais velhos, em que o risco é muito influenciado pela idade, poderá ser mais adequado informar o utente apenas sobre o seu risco a 5 anos (P5) porque o risco a 10 anos (P10) quase que duplica.

Em indivíduos mais novos, com risco CV muito baixo devido à influência da idade, poderá ser conveniente informá-los, também, do risco calculado a 10 anos por forma a sensibilizá-los, mais facilmente, a adoptarem estilos de vida saudáveis e melhorarem a adesão à terapêutica.

Caso as análises clínicas do utente não tenham sido disponibilizadas, o sistema CAT&D fornece uma estimativa da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular fatal ou não fatal com base num modelo reduzido, sem o uso de parâmetros derivados das análises.

Relatório comparativo de 2 MAPA

Este relatório obtém-se automaticamente seleccionando 2 MAPA cujos resultados é possível comparar. Desta forma, pode avaliar-se a evolução da PA, do risco CV e de um conjunto de dados relativos ao doente (variáveis antropométricas, hábitos, terapêutica, análises clínicas e factores de risco).

Evolução da pressão arterial

Na análise da evolução da PA importam dois parâmetros derivados da MAPA-48 h - a PAS média do sono e a % de queda relativa da PAS média da vigília para o sono (padrão dipping) - que têm elevado valor prognóstico. Os objectivos do tratamento são atingir uma PAS média do sono < 120 mmHg e obter um padrão dipper (% de queda da PAS durante o sono ≥ 10%)

No exemplo abaixo, verifica-se que a PAS média do sono já normalizou (< 120 mmHg) e que o padrão dipping evoluiu de não-dipper (7.3%) para dipper (15.1%). A PA está controlada.

Evolução do risco cardiovascular

Para a análise da evolução do risco é apresentado um quadro com indicação do risco estimado a 5 anos (P5) e a 10 anos (P10) nas 2 MAPA (os números entre parêntesis são os intervalos de confiança de 95%).

As imagens a cores ilustram a evolução do risco de um dado indivíduo, que passou de 7.23% (nível de risco entre 7 e 10% - laranja claro) para 5.36% (nível de risco entre 5 e 7% - amarelo).

Relatório comparativo de 3 ou mais MAPA

Este relatório também se obtém automaticamente. A informação dada, sob a forma de gráficos, contempla a evolução ao longo do tempo da PAS média do sono, da % de queda relativa da PAS durante o sono (padrão dipping) e da probabilidade de ocorrência de um evento CV fatal ou não fatal a 5 anos. A probabilidade de evento está enquadrada dentro do respectivo intervalo de confiança de 95%.

Referências

  1. Hermida RC, Smolensky MH, Ayala DE, Portaluppi F. Ambulatory blood pressure monitoring (ABPM) as the reference standard for diagnosis of hypertension and assessment of vascular risk in adults. Chronobiol Int. 2015;32:1329–1342.
  2. Hermida RC, Ayala DE, Fontao MJ, Mojón A, Fernández JR. Ambulatory Blood Pressure Monitoring: Importance of Sampling Rate and Duration—48 Versus 24 Hours—on the Accurate Assessment of Cardiovascular Risk. Chronobiology International, 30(1–2): 55–67, (2013).
  3. Mochizuki Y, Okutani M, Donfeng Y, Iwasaki H, Takusagawa M, Kohno I, Mochizuki S, Umetani K, Ishii H, Ijiri H, Komori S, Tamura K. Limited Reproducibility of Circadian Variation in Blood Pressure Dippers and Nondippers.  Am J Hypertens 1998; 11:403–409
  4. Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, Casey DE Jr, Collins KJ, Dennison Himmerfarb C, DePalma SM, Gidding S, Jamerson KA, Jones DW, MacLaughlin EJ, Muntner P, Ovbiagele B, Smith SC Jr, Spencer CC, Stafford RS, Taler SJ, Thomas RJ, Williams KA Sr, Williamson JD, Wright JT Jr. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/ NMA/PCNA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults: a Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2018;71:e127-e248.
  5. National Institute for Health and Clinical Excellence. Hypertension: The ClinicalManagement of Primary Hypertension in Adults. NICE Clinical Guidelines 127: Methods,Evidence and Recommendations. London, UK: National Clinical Guidelines Centre,2011. http://guidance.nice.org.uk/CG/Wave2/14 (2 November 2017).
  6. 2018 ESC/ESH Guidelines for the management of arterial hypertension. European Heart Journal (2018) 00, 1–98
  7. Hermida RC, Smolensky MH, Ayala DE, Portaluppi F, Crespo JJ, Fabbian F, Haus E, Manfredini R, Mojón A, Moyá A, Pineiro L, Ríos MT, Otero A, Balan H, Fernández JR. 2013 ambulatory blood pressure monitoring recommendations for the diagnosis of adult hypertension, assessment of cardiovascular and other hypertension-associated risk, and attainment of therapeutic goals. Chronobiol Int 2013;30:355–410
  8. O’Brien E, Parati G, Stergiou G, et al. European Society of Hypertension Working Group on Blood Pressure Monitoring. European Society of Hypertension position paper on ambulatory blood pressure monitoring. J Hypertens. 2013;31:1731–1768. doi: 10.1097/HJH.0b013e328363e96
  9. Anstey DE, Muntner P, Bello NA, Pugliese DN, Yano Y, Kronish IM, Reynolds K, Schwartz JE, Shimbo D. Diagnosing Masked Hypertension Using Ambulatory Blood Pressure Monitoring, Home Blood Pressure Monitoring, or Both? Hypertension. 2018;72:1200-1207
  10. Sarafidis PA, Georgianos P, Bakris GL. Resistant hypertension—its identification and epidemiology. Nat Rev Nephrol. 2013;9:51–58.
  11. Banegas JR, Ruilope LM, de la Sierra A, et al. High prevalence of masked uncontrolled hypertension (MUCH) in people with treated hypertension. Eur Heart J. 2014;35:3304–12
  12. de la Sierra A, Segura J, Banegas JR, Gorostidi M, de la Cruz JJ, Armario P, Oliveras A, Ruilope LM. Clinical features of 8295 patients with resistant hypertension classified on the basis of ambulatory blood pressure monitoring. Hypertension. 2011; 57:898–902.
  13. Dolan E, Stanton A, Thijs L, Hinedi K, Atkins N, McClory S, Hond ED, McCormack P, Staessen JA, E’Brien E. Superiority of Ambulatory Over Clinic Blood Pressure Measurement in Predicting Mortality. The Dublin Outcome Study. Hypertension. 2005;46:156-161.
  14. Ohkubo T, Hozawa A, Yamaguchi J, et al. Prognostic significance of the nocturnal decline in blood pressure in individuals with and without high 24-h blood pressure: the Ohasama study. J Hypertens. 2002;20:2183-2189.
  15. Banegas JR, Ruilope LM, de la Sierra A, et al. Relationship between Clinic and Ambulatory Blood-Pressur measurements and Mortality. N Engl J Med 2018; 378:150.
  16. Staessen J, Thijs L, Fagard R, et al. Predicting cardiovascular risk using conventional vs ambulatory blood pressure in older patients with systolic hypertension. JAMA. 1999;282:539-546.
  17. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A and Fernández JR. Sleep-Time Blood Pressure as a therapeutic target for cardiovascular risk reduction in type 2 Diabetes. Am J Hypertens. 2012 Mar;25(3):325-34.
  18. Dolan E, Stanton A, Thijs L, Hinedi K, Atkins N, McClory S, Den Hond E, McCormack P, Staessen JA, O'Brien E. Superiority of ambulatory over clinic blood pressure measurement in predicting mortality: the Dublin outcome study. Hypertension. 2005;46:156–161.
  19. Boggia J, Li Y, Thijs L, Hansen TW, Kikuya M, Björklund-Bodegård K, Richart T, Ohkubo T, Kuznetsova T, Torp-Pedersen CH, Lind L, Ibsen H, Imai Y, Wang J, Sandoya E, O’Brien E, Staessen JA. Prognostic accuracy of day versus night ambulatory blood pressure: a cohort study. Lancet. 2007;370:1219–122.
  20. Fagard RH, Celis H, Thijs L, Staessen JA, Clement DL, De Buyzere ML, De Bacquer DA. Daytime and nighttime blood pressure as predictors of death and cause-specific cardiovascular events in hypertension. Hypertension. 2008;51:55–61.
  21. Fan HQ, Li Y, Thijs L, Hansen TW, Boggia J, Kikuya M, Björklund-Bodegard K, Richart T, Ohkubo T, Jeppesen J, Torp-Pedersen C, Dolan E, Kuznetsova T, Stolarz-Skrzypek K, Tikhonoff V, Malyutina S, Casiglia E, Nikitin Y, Lind L, Sandoya E, Kawecka-Jaszcz K, Imai Y, Ibsen H, O’Brien E, Wang J, Staessen JA. Prognostic value of isolated nocturnal hypertension on ambulatory measurement in 8711 individuals from 10 populations. J Hypertens. 2010;28:2036–2045.
  22. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A, Fernández JR. Decreasing sleep-time blood pressure determined by ambulatory monitoring reduces cardiovascular risk. J Am Coll Cardiol. 2011;58:1165–117.
  23. Minutolo R, Agarwal R, Borrelli S, Chiodini P, Bellizzi V, Nappi F, Cianciaruso B, Zamboni P, Conte G, Gabbai FB, De Nicola L. Prognostic role of ambulatory blood pressure measurement in patients with nondialysis chronic kidney disease. Arch Intern Med. 2011;171:1090–1098.
  24. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A, Fernández JR. Sleep-time blood pressure as a therapeutic target for cardiovascular risk reduction in type 2 diabetes. Am J Hypertens. 2012;25:325–334.
  25. Hermida RC, Ayala DE, Fernández JR, Mojón A. Sleep-time blood pressure: Prognostic value and relevance as a therapeutic target for cardiovascular risk reduction. Chronobiol Int. 2013;30:68–86.
  26. ABC-H Investigators; Roush GC, Fagard RH, Salles GF, Pierdomenico SD, Reboldi G, Verdecchia P, Eguchi K, Kario K, Hoshide S, Polonia J, de la Sierra A, Hermida RC, Dolan E, Zamalloa H. Prognostic impact from clinic, daytime, and nighttime systolic blood pressure in 9 cohorts on 13,844 patients with hypertension. J Hypertens. 2014;32:2332–2340.
  27. Hermida RC, Ayala DE, Smolensky MH, Fernández JR, Mojón A, Portaluppi F. Sleep-time blood pressure: Unique sensitive prognostic marker of vascular risk and therapeutic target for prevention. Sleep Med Rev. 2017;33:17–27.
  28. Hermida RC, Crespo JJ, Otero A, Domínguez-Sardiña M, Moyá A, Ríos MT, Castiñeira MC, Callejas PA, Pousa L, Sineiro E, Salgado JL, Durán C, Sánchez JJ, Fernández JR, Mojón A, Ayala DE, for the Hygia Project Investigators. Asleep blood pressure: Significant prognostic marker of vascular risk and therapeutic target for prevention. Eur Heart J. 2018;39:4159–4171.
  29. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A, Fernández JR. Sleep-time BP: Prognostic marker of type 2 diabetes and therapeutic target for prevention. Diabetologia. 2016;59:244–254.
  30. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A, Fernández JR. Sleep-time ambulatory BP is na independent prognostic marker of CKD. J Am Soc Nephrol. 2017;28:2802–2811.
  31. Ohkubo T, Hozawa A, Yamaguchi J, Kikuya M, Ohmori K, Michimata M, Matsubara M, Hashimoto J, Hoshi H, Araki T, Tsuji I, Satoh H, Hisamichi S, Imai Y. Prognostic significance of the nocturnal decline in blood pressure in individuals with and without high 24-h blood pressure: the Ohasama study. J Hypertens. 2002;20:2183–2189.
  32. Fagard RH, Thijs L, Clement DL, De Buyzere ML, De Bacquer. Night-day blood pressure ratio and dipping pattern as predictors of death and cardiovascular events in hypertension. J Human Hypertens. 2009;23;645–653.
  33. Salles GF, Reboldi G, Fagard RH, Cardoso C, Pierdomenico SD, Verdecchia P, Eguchi K, Kario K, Hoshide S, Polonia J, de la Sierra A, Hermida RC, Dolan E, O’Brien E, Roush G, for the ABC-H Investigators. Prognostic impact of the nocturnal blood pressure fall in hypertensive patients: The ambulatory blood pressure collaboration in patients with hypertension (ABC-H) meta-analysis. Hypertension. 2016;67:693–700.
  34. Hermida RC, Ayala DE, Mojón A, Fernández JR. Blunted sleep-time relative blood pressure decline increases cardiovascular risk independent of blood pressure level – The “normotensive non-dipper” paradox. Chronobiol Int. 2013;30:87–98.
  35. Steen MS, Lenders JWM, Graafsma SJ, Arend J, ThienT. Reproducibility of ambulatory blood pressure monitoring in daily practice. J Human Hypertens.1999;13:303–308.